Objectivo deste blog


O blog "Portugal, um cais do mundo" pretende responder à pergunta "Que país queremos ser?".
Os autores propõem-se contribuir para esta questão por três vias:
- Aprofundar - Disc
utir modelos de optimização do papel de Portugal nas redes da globalização.
- Implementar - Propor formas de concretizar o sonho "Portugal, um cais do mundo".
- Divulgar - Tornar o sonho visível em Portugal e promover o reconhecimento internacional.


=================================================================================================================

Media e entretenimento: O novo sector exportador


No início deste mês, Mira Amaral, ex-ministro da Indústria e Energia, em declarações à TSF recordou que as metodologias do relatório de Michael Porter sobre a competitividade nacional continuam válidas. Relatório esse, que focou a importância das indústrias tradicionais, mas como o próprio Mira Amaral referiu em entrevista à revista Fortuna em Dezembro de 1993: “O estudo analisa os sectores tradicionais mas é omisso sobre os futuros”.

Hoje, já sabemos que muito mudou nos últimos anos e que nos próximos as mudanças serão mais rápidas e que vão surgir novas indústrias e novos mercados.

As indústrias tradicionais podem e devem ser uma aposta. Mas, as plataformas digitais abrem novas portas para a exportação em sectores onde a criatividade e o talento são vantagens competitivas. A nossa História está repleta de bons exemplos onde nos destacámos pela inovação, criatividade e talento.

Podemos destacar-nos nos mercados de aplicações, videojogos, filmes, músicas, livros e conteúdos informativos e de entretenimento (e sempre que possível com tradução para diversas línguas).

O potencial de negócio da indústria de media e entretenimento apresenta perspectivas de crescimento sustentado em todo o mundo para os próximos anos, sendo a distribuição digital um catalisador para a criação de um novo sector exportador.

Porque não criarmos o próximo “Angry Birds em Coimbra ou o próximo “Farmville” em Braga? Terão os finlandeses ou norte-americanos mais criatividade e talento do que nós? Não pode o nosso cinema ser um sucesso na China ou França? E os livros dos nossos autores serem best sellers nos Estados Unidos?

A indústria de media e entretenimento é uma oportunidade efetiva e atual de incrementar as exportações. Para isso, é importante que o governo e os investidores tenham esta visão, de forma a que daqui a vinte anos, esta possa ser considerada uma das indústrias tradicionais com peso relevante nas nossas exportações e que seja também uma forma de afirmação e reposicionamento económico de Portugal no mundo.

Video: Michael Porter sobre as cinco forças da competitividade que definem a estratégia


Publicado também no blog Cibertransistor.com e nos jornais Diário de Notícias e Meios & Publicidade

Quatro pontos no cais



Desde que começou a crise Europeia, houve oito países Europeus alvo de "bail-out", incluindo três países da zona Euro, que foram alvo de "bail-out" pela troika constituída pelo FMI, pela Comissão Europeia e pelo Banco Central Europeu.

Como parte do pacote em vários dos casos de "bail-out", foi acordada a venda de activos detidos pelo Estado; dado que a Grécia ainda não procedeu a vendas, e no caso da Irlanda a venda de capital do Bank of Ireland foi feita a título privado, não do Estado, ficam três transacções com quatro compradores.

Estas três transacções foram feitas por Portugal: um pequeno banco "falhado", o BPN, que foi vendido a um banco Angolano, o BIC. Um bloco de acções representando 21% do capital da "utility" nacional, a EDP, vendido a uma empresa Chinesa, a China Three Gorges Corporation. Dois blocos de acções da empresa de transmissão de electricidade e gás, a REN, vendidos um (25%) a outra empresa Chinesa, a State Grid, e outro (15%) a uma empresa de Oman, a Oman Oil.

Ou seja, seja por desígnio ou não, a venda de três activos traz quatro pontos ou ligações a realidades não-Europeias: África, Ásia e Médio Oriente, o que reforça a oportunidade para Portugal continuar (ou voltar) a ser um "cais do Mundo". Curioso olhar para o mapa de viagens de há 500 anos atrás, passam pelos mesmos pontos. Vamos ver como se continua a desenrolar a resolução da crise, e se a oportunidade é explorada ao máximo.

PS - Adicionalmente, e fora dos termos de "bail-out", a Galp Energia acordou em Novembro passado a venda de 30% das suas operações no Brasil à China Petrochemical Corporation: outro ponto no cais - e os pontos ou as acções que lhes dão origem não são nem deverão ser propriedade exclusiva do Estado.

            Cidades e Regiões Inteligentes


                                   Por Francisco Jaime Quesado (x)                                         


    As conclusões associadas à implementação do Projecto “Cidades e Regiões Digitais”, que decorreu um pouco por todo o país, envolvendo “redes integradas de cooperação territorial” (Municípios, Universidades, Centros I&D, Empresas, Sociedade Civil), são a melhor demonstração de que em 2012, apesar de todas as políticas públicas e estratégias tendo em vista a modernização do território português,  o país teima em não conseguir assumir uma dinâmica de “salto em frente” para o futuro tendo por base os factores dinâmicos da inovação e competitividade. Precisamos por isso de apostar em Cidades e Regiões Inteligentes.


    Numa Europa das Cidades e Regiões, onde a aposta na inovação e conhecimento  se configura como a grande plataforma de aumento da competitividade à escala global, os números sobre a coesão territorial e social traduzem uma evolução completamente distinta do paradigma desejado. A excessiva concentração de activos empresariais e  de talentos nas grandes metrópoles, como é o caso da Grande Lisboa, uma aterradora desertificação das zonas mais interiores, na maioria dos casos  divergentes nos indicadores acumulados de capital social básico, suscitam muitas questões quanto à verdadeira dimensão estruturante de muitas das apostas feitas em matéria de investimentos destinados a corrigir esta “dualidade” de desenvolvimento do país ao longo dos últimos anos.

   
       Apesar da relativa reduzida dimensão do país, não restam dúvidas de que a aposta numa política integrada e sistemática de Cidades Médias, tendo por base o paradigma da inovação e do conhecimento, com conciliação operativa entre a fixação de estruturas empresariais criadoras de riqueza e talentos humanos indutores de criatividade, é o único caminho possível para controlar este fenómeno da Metropolização da capital que parece não ter fim. O papel das Universidades e Institutos Politécnicos que nos últimos 20 anos foram responsáveis pela animação de uma importante parte das cidades do interior, com o aumento da população permanente e a aposta em novos factores de afirmação local, está esgotado.
   






          O Investimento Directo Estrangeiro desempenha neste contexto um papel de alavancagem da mudança único. Portugal precisa de forma clara de conseguir entrar com sucesso no roteiro do “IDE de Inovação” associado à captação de Empresas e Centros de I&D identificados com os sectores mais dinâmicos da economia – Tecnologias de Informação e Comunicação, Biotecnologia, Automóvel e Aeronática, entre outros. Trata-se duma abordagem distinta, protagonizada por “redes activas” de actuação nos mercados globais envolvendo os principais protagonistas sectoriais (Empresas Líderes, Universidades, Centros I&D), com um papel de mobilização das cidades para uma nova agenda estratégica.


    Desta forma, o compromisso entre aposta, através da Ciência, Inovação e Tecnologia, em Competitividade Estruturante na Criação de Valor Empresarial, e atenção especial à Coesão
Social, do ponto de vista de equidade e justiça, é o grande desafio a não perder. A Sociedade do Conhecimento tem nesta matéria um papel muito especial a desempenhar e numa época onde se assiste à crescente Metropolização do país em torno do Porto e Lisboa,  a aposta em projectos de coesão territorial como as “Cidades e Regiões Digitais” pode fazer a diferença, com o papel de diferença de aposta na qualidade de vida e crescimento económico.

     

     (x) Especialista em Estratégia, Inovação e Conhecimento


  

Privatizações e Serviços Públicos

A propósito da privatização de várias empresas hoje totalmente detidas pelo Estado, tenho lido vários artigos de opinião em que os autores expressam as suas preocupações sobre o futuro da prestação dos serviços públicos que têm vindo a ser assegurados por tais empresas. Regra geral, tais artigos associam a prestação desses serviços públicos à titularidade do capital social dessas empresas, desvalorizando uns e ignorando outros que várias empresas de capitais privados têm vindo a assegurar - com segurança - serviços públicos com base em contratos celebrados com o Estado.

O caso do serviço universal de telecomunicações é um bom testemunho dessa abordagem: a Portugal Telecom enquanto empresa quase totalmente detida por capitais privados tem assegurado a prestação do serviço universal em todo o país, não tendo havido até ao momento qualquer preocupação suscitada por cidadãos que não tenham tido as suas necessidades básicas de comunicações devidamente asseguradas por este prestador privado, dentro dos parâmetros de preço e de qualidade de serviço fixados pelo regulador (que têm implicado uma descida anual de preços, em termos reais, de 2.75%). E sempre sem recurso à posição accionista do Estado na empresa.
 
Não vejo por isso que as privatizações de outras empresas de capitais públicos não possam seguir este modelo. Há no entanto precauções a considerar: a) o Estado deve evitar a tentação de embelezar as empresas a privatizar, aliviando-as de obrigações de serviço universal na perspectiva de aumentar o encaixe, uma vez que a imposição de obrigações no pós-privatização sairá muito mais caro; b) os contratos a celebrar têm necessariamente de prever mecanismos que assegurem o cumprimento das obrigações, com disposições que desincentivem fortemente incumprimentos; c) o Estado tem que dotar as entidades que fazem a monitorização de tais obrigações – os reguladores – dos meios e instrumentos necessários para desempenharem tais tarefas com sucesso; d) tem que ficar claro como deve ser assegurado o financiamento de eventuais custos decorrentes da prestação desses serviços e e) devem igualmente ser previstos mecanismos que incentivem a eficiência na prestação dos referidos serviços, com vista à redução dos custos líquidos deles decorrentes, nomeadamente evitando contratos de longa duração.

(Texto inicialmente publicado em www.ferraricareto.com)