Temos um sonho! Um dia, Portugal será um “cais do mundo”, um nó relevante na rede da globalização. Os Portugueses devem olhar para o fenómeno da globalização como uma oportunidade – traçando como meta estratégica de desenvolvimento tornar o país um dos nós fundamentais de todas as redes de pessoas, bens, capital e conhecimento. A nossa geração tem o dever de deixar à próxima um país melhor do que aquele que herdámos dos nossos pais. Trata-se de uma exigência geracional que não podemos esquecer.
Objectivo deste blog
O blog "Portugal, um cais do mundo" pretende responder à pergunta "Que país queremos ser?".
Os autores propõem-se contribuir para esta questão por três vias:
- Aprofundar - Discutir modelos de optimização do papel de Portugal nas redes da globalização.
- Implementar - Propor formas de concretizar o sonho "Portugal, um cais do mundo".
- Divulgar - Tornar o sonho visível em Portugal e promover o reconhecimento internacional.
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Quatro pontos no cais

Desde que começou a crise Europeia, houve oito países Europeus alvo de "bail-out", incluindo três países da zona Euro, que foram alvo de "bail-out" pela troika constituída pelo FMI, pela Comissão Europeia e pelo Banco Central Europeu.
Como parte do pacote em vários dos casos de "bail-out", foi acordada a venda de activos detidos pelo Estado; dado que a Grécia ainda não procedeu a vendas, e no caso da Irlanda a venda de capital do Bank of Ireland foi feita a título privado, não do Estado, ficam três transacções com quatro compradores.
Estas três transacções foram feitas por Portugal: um pequeno banco "falhado", o BPN, que foi vendido a um banco Angolano, o BIC. Um bloco de acções representando 21% do capital da "utility" nacional, a EDP, vendido a uma empresa Chinesa, a China Three Gorges Corporation. Dois blocos de acções da empresa de transmissão de electricidade e gás, a REN, vendidos um (25%) a outra empresa Chinesa, a State Grid, e outro (15%) a uma empresa de Oman, a Oman Oil.
Ou seja, seja por desígnio ou não, a venda de três activos traz quatro pontos ou ligações a realidades não-Europeias: África, Ásia e Médio Oriente, o que reforça a oportunidade para Portugal continuar (ou voltar) a ser um "cais do Mundo". Curioso olhar para o mapa de viagens de há 500 anos atrás, passam pelos mesmos pontos. Vamos ver como se continua a desenrolar a resolução da crise, e se a oportunidade é explorada ao máximo.
PS - Adicionalmente, e fora dos termos de "bail-out", a Galp Energia acordou em Novembro passado a venda de 30% das suas operações no Brasil à China Petrochemical Corporation: outro ponto no cais - e os pontos ou as acções que lhes dão origem não são nem deverão ser propriedade exclusiva do Estado.
Cidades e Regiões Inteligentes
Privatizações e Serviços Públicos
O caso do serviço universal de telecomunicações é um bom testemunho dessa abordagem: a Portugal Telecom enquanto empresa quase totalmente detida por capitais privados tem assegurado a prestação do serviço universal em todo o país, não tendo havido até ao momento qualquer preocupação suscitada por cidadãos que não tenham tido as suas necessidades básicas de comunicações devidamente asseguradas por este prestador privado, dentro dos parâmetros de preço e de qualidade de serviço fixados pelo regulador (que têm implicado uma descida anual de preços, em termos reais, de 2.75%). E sempre sem recurso à posição accionista do Estado na empresa.
Ouvi falar bem de nós...
Mais do que dizer que contasse comigo, quis dizer-lhe que acredito mesmo na realização deste sonho que passa pela afirmação de Portugal no mundo, assumindo-se como um dos 'nós' fundamentais de todas as redes de pessoas, bens, capital e conhecimento.
É fácil, para mim, pensar que será possível. Parece-me aliás, ou sobretudo, muito difícil pensar diferente.
Com base naquela que tem sido a minha experiência mais recente ligada à promoção internacional de um sector específico de actividade – o dos serviços de base tecnológica, de valor acrescentado, de tecnologias de informação, comunicação e de processos -,mas com base também em experiências pessoais, académicas e profissionais, fora de Portugal, com contactos com gente de outros ‘nós’, acredito que poderíamos estar a uma distância curta de sermos reconhecidos como um País de referência...
A pergunta que é colocada pelo próprio blog – “Que país queremos ser?” – devería no entanto, parece-me, ser substituída por uma outra: “Que país queremos dizer que somos?”; Ou por outra até: “Que país sabemos dizer que somos?”.
Façamos, pois, um pequeno exercício: assumamos que não sabemos comunicar, falar de nós, contar quem somos, que simplemente não sabemos como fazê-lo, ou que não temos jeito para isso! (e, na verdade, se nos compararmos a povos de outras geografias, Vender é coisa que não dominamos mesmo, isso é certo e não necessariamente ‘mau’…)
Eu já o sei.
Recordo-me de ouvir recentemente líderes máximos de grandes empresas, de grandes multinacionais, a dizer publicamente que, por todos estes factores, “é em Portugal que os meus colaboradores querem trabalhar e é desde Portugal que os meus clientes querem ser servidos”.
A excelência também já mora aqui
Os Novos Embaixadores de Portugal
Mas que raio de sociedade estamos a construir?

O Cais da Lusofonia
Termino com Fernando Pessoa, que, no início do século XX, dando voz a uma tradição literária profética, vaticinava, para Portugal, um novo Império, não já material, mas cultural. Mais uma vez, o povo português "partirá em busca de uma Índia nova, que não existe no espaço, em naus que são construídas daquilo de que os sonhos são feitos."
Descobrimentos 2.0
Uma escola global para um Portugal global
(O meu agradecimento ao Paulo, pela ideia e pelo convite. Vamos a isto, que o desafio não é pequeno!)
Ainda antes de chegarmos aqui, já várias vezes tínhamos conversado sobre isto: a ideia de "Portugal global" tem de ser desenvolvida, discutida, acolhida, muito, muito cedo. Sim, na escola.
Na escola primária, talvez mesmo com primeiras referências ainda antes, no ensino pré-primário. E depois, sempre, com consistência, com persistência, com ambição e sonho.
Começamos a viver num país que compreende bem quais os instrumentos mínimos de navegação: o inglês e as tecnologias. Mas parece-me que falta enquadramento, motivação, sentido de rota.
De facto, os pequenos começam, cada vez mais pequenos, a dominar os computadores, os smartphones, os tablets. Cada vez mais cedo incorporam expressões de comunicação em inglês e aceitam a aprendizagem da língua universal como uma dimensão perfeitamente natural de crescimento. Mas é claro para eles até onde podem ir com tamanho arsenal?
É aqui que vale a pena propor: "Portugal Global" ou "Globalização", expressões e palavras que não se compreendem à primeira nem à segunda, mas que quanto mais cedo se ouvirem mais cedo se repetem, se respiram e transpiram. E é isso que se pretende com a antecipação desta discussão no percurso escolar dos mais novos.
As nossas escolas estão a mudar muito, parece-me, e, neste plano, no sentido certo, independentemente dos efeitos associados aos ciclos políticos. Da mesma forma, muitas empresas e associações da sociedade civil envolvem-se mais com as escolas para que, a vários níveis, se tornem mais abertas, mais autónomas, mais participadas e participativas.
O sentido é o certo e os ingredientes aproximam-se para um novo Portugal Global que se sente e se vive na escola. Desafio seguinte: dar a estes exemplos dimensão, escala. Vermos mais, muitas, escolas a integrarem estas reflexões nos seus projectos educativos. Vários de nós têm umas ideias a este respeito e estão já a lutar por elas. Mas como a empreitada é grande e o tempo sempre curto, mais gente a juntar-se à causa: sempre bem vinda!
Aceleremos para que o Carlos e o Paulo possam ter razão… antes de 2020 J.
Vem tu também, para Portugal
Éramos jovens e abertos, discutimos como fazê-lo, e um de nós questionou: porque não combinar empreendedorismo com um sítio agradável, daqueles onde se passa férias?
Outro sugeriu Portugal: um país á beira mar com um clima ameno, hospitaleiro, juventude com talento e formação que ele tinha conhecido durante o Erasmus.
Fomos a um site e gostámos. Um look atraente, e havia facilidades para empreeendedores: capital de risco em rede com Venture Capitals europeias, um regime fiscal favorável e parques de inovação com ligação ás universidades, apenas para citar algumas.
Contactámo-los e sentimos que nos queriam. Arriscámos e viemos.
Criar a empresa foi fácil. Conseguimos contratar recursos de excelente qualidade a um custo impensável no nosso país de origem, onde a concorrência pelo talento era muito maior.
Trabalhámos no duro, mas também disfrutámos. Em nenhum outro país da Europa podes fazer, quase todo o ano, breaks durante o dia para ir á praia surfar. Mesmo no pico do Inverno discutimos frequentemente ideias em esplanadas ao Sol. E divertimo-nos á brava, afinal é um país do Sul.
Fomos dos primeiros estrangeiros a optar por Portugal para criar uma start-up. Depois tornou-se conhecido e começaram a vir de todas as partes da Europa. Hoje contam-se centenas de empresas criadas por jovens como nós, e continuam a chegar mais. Até os portugueses se tornaram mais empreendedores neste caldo de culturas.
Houve um tempo em que tememos que este influxo acabaria ao gerar um problema de escassez de talento. Mas felizmente enganámo-nos. Em vez disso atraiu por sua vez muitos outros jovens que, havendo oportunidades profissionais, apreciam ir viver pelo menos uns anos para um país com Sol. Hoje são tantos que quase fazem esquecer o envelhecimento da população e a sustentabilidade das pensões de reforma, temas tão preocupantes há poucos anos atrás.
Agora Portugal está na moda, the place to go. Como em Israel há 10 anos, a inovação é hoje o motor do crescimento. As exportações a ela associadas crescem exponencialmente.
O país mudou, abriu-se. Pouco depois de chegarmos começaram voos directos para a California do Silicon Valley, o maior ecosistema de inovação do mundo. Seguiram-se outras ligações aéreas a centros no oriente. O volume de inovação atraiu Venture Capital que abre portas para a rápida internacionalização das melhores start-ups. Pouco a pouco Portugal tornou-se num hub trans-atlântico, atraindo talento, inovação e investimento.
Tivemos sucesso com a nossa empresa e já a vendemos. Investi uma boa parte do ganhos em algumas das melhores start-ups que entretanto fui aqui vendo surgir.
Já não era capaz de viver noutro país, em nenhum lado da Europa encontramos hoje esta combinação de vitalidade, inovação e cool lifestyle. A Europa precisava dum sítio assim.
Vem tu também.
Portugal, Janeiro de 2020
Nota do autor: pode não ser tão difícil como pensamos transformar esta ficção em realidade.
Carlos Brazao
Artigo publicado no semanário O Expresso de 07 de Janeiro de 2012